Bem seria injusto após um bom punhado de artigos não vir aqui falar sobre o meu primeiro carro. O momento em que se tem o primeiro carro é algo indescritível, independentemente se ele é um chaço velho ou um carro acabado de sair do stand, é o nosso fiel companheiro de viagens, é com ele que partilhamos momentos únicos da nossa vida e descobrimos o prazer de condução, e se não acredita lembre-se de uma qualquer história da sua juventude e irá reparar que a determinada altura da história irá ter como protagonista o seu primeiro carro.

Bem, eu comecei por baixo, comecei com um verdadeiro chaço, mas um chaço que me apaixonou e que ainda hoje me faz arrepender de o ter deixado ir. O meu primeiro carro foi um Rover 111 de 1995 British Green Race de 3 portas, era um carro carregado de histórias, peripécias e acima de tudo quilómetros.

Quando o carro chegou ás minhas mãos estava prestes a ir para abate, sim estava assim tão mau, até um vizinho que ia mandar abater o carro se lembrou de mim e deu-me a hipótese de ficar com o carro salvando-o assim da morte certa. Acabei por não pagar nada pelo carro, apenas tinha que o voltar a por em forma e pronto para fazer quilómetros.

O espécime inglês era um 1100cc com cerca de 75cv, com um histórico de acidentes considerável no qual se conta um capotamento, e mais de 180000 quilómetros aos quais adicionei mais 30 mil sem que este me tenha deixado na mão. Quando recebi o carro tinha acabado de passar no IPO pela mão do antigo dono, no entanto este precisava claramente de algumas intervenções de fundo.

O travão de mão não funcionava, pelo que se o deixasse numa descida desengatado o mais certo é que ele se fosse embora, a suspensão tinha um sistema a gás que tinha uma fuga no amortecedor frontal esquerdo o que fazia com que o carro estivesse rebaixado apenas de um lado, este problema acabou por nunca ter sido verdadeiramente resolvido.

A junta da cabeça tinha sido mudada devido a um aquecimento, aparentemente a ventoinha não disparava teve que ser instalado um switch que a activava manualmente, e devido ao capotamento que em algum ponto da sua vida teve, o tejadilho estava cheio de massa que estava estalar e esta se encontrava a sair, pelo que foi substituída por mim e pintada com toda a minha mestria e uma lata de spray verde comprada num hipermercado.

No interior  do FF (letras da matricula), nome dado carinhosamente por alguém, não havia rádio mas havia imenso pêlo de cão oriundo de um serra da estrela que viajava na parte de trás e que tinha como principal entretenimento roer um dos cintos traseiros durante as viagens. Quanto ao rádio acabei por adquirir um JVC que valia mais do que o carro, já o pêlo, bem… limpei o que podia e consegui, quando vendi o carro este ainda foi com pêlo.

Depois de 3 anos e tantas histórias de vida universitária a bordo do FF, chegava a hora de o vender e comprar algo capaz de satisfazer as minhas necessidades de então, não vou dizer que não larguei uma lágrima quando entreguei a chave no stand, mas uma parte de mim ficou sempre com o desejo de um dia o ter de volta, não sei se algum dia será possível esse encontro ou sequer se ele ainda circula nas estradas do nosso país, mas fica sempre a vontade de pelo menos um dia me voltar a cruzar com ele.